terça-feira, 11 de novembro de 2008

Por que Avaliar?


O ser humano está constantemente submetido a processos de avaliação, seja em âmbito social, acadêmico ou profissional. Percebemos, pois, que o ser humano, enquanto ser histórico e social, enfrenta o processo avaliativo escolar, que é bastante formal (espaço determinado, data marcada, conteúdo a ser estudado, provas, testes, questões, notas, médias, etc); e outro que é vivido constantemente em nossa vida, que é a nossa reflexão e avaliação diária, que não tem um valor ou uma nota, ou uma média a ser atingida, mas que é parte integrante de nossas vidas. Podemos pensar em atitudes simples, tais como a administração do nosso dinheiro, tomadas de decisões em nível familiar, social e econômico; refletir para mudar a nossa vida e para melhorá-la. E tudo isso requer avaliação, reconstrução, revisão e projetos.

Sob esse prisma, Hoffmann (2003, p.148) afirma que “o homem é o único ser provido de razão, portanto, capaz de refletir diante dos seus atos e agir diferentemente dos outros. Esse é o sentido de toda e qualquer reflexão”, que dará suporte a uma avaliação.

Dentro do processo de ensino e aprendizagem o aluno é considerado não somente como um indivíduo, mas como um ser social e histórico, que deve desenvolver plenamente a linguagem a cultura e o trabalho dentro do processo chamado educação. Nesse sentido, o papel da escola é fazer com que o indivíduo se aproprie daquilo que é humano; fazer com que esse ser social e histórico se constitua, deveras, através do conhecimento.

A avaliação da aprendizagem, de acordo com as idéias de Luchesi, não deve ser autoritária, mas sim diagnóstica, ou seja, observar o aluno, seu desempenho, seus acertos e fracassos e trilhar, conjuntamente, novos rumos. De acordo com Melo (2008, p. 83) uma avaliação eficiente precisa acontecer permanentemente durante todo o processo educativo, abrangendo o aluno, o professor e o contexto, ou seja, a realidade que o cerca. A avaliação visa, portanto, analisar o desempenho e o crescimento do aluno, desde o início do processo de aprendizagem até o fim. Analisar o desempenho e a atuação do professor enquanto mediador ou facilitador do processo de construção do conhecimento. A avaliação visa analisar, ainda, o contexto, isto é, as condições concretas e as realidades que possibilitaram a efetivação da disciplina, do curso, etc.

A avaliação não deve ser autoritária ou punitiva, mas sim emancipatória. A avaliação não deve ser vista como o “juízo final” ou “a vingança do professor”, mas sim como um momento de parada, de análise dos conteúdos assimilados, de crescimento, de apontar novos direcionamentos para o processo de ensino-aprendizagem. O ato de avaliar deve ser um momento de síntese, ou seja, um momento em que o aluno demonstre que ele absorveu o conteúdo e que o desenvolveu.


“O momento da avaliação que traduz o crescimento do aluno, que expressa como se apropriou do conteúdo, como resolveu as questões propostas, como reconstituiu seu processo de concepção da realidade social e, como, enfim, passou da síncrese à síntese (...). Não como demonstração de que se aprendeu um novo tema para a realização de uma prova, de um teste, mas a expressão prática de que se apropriou de um conhecimento, que se tornou um novo instrumento de compreensão da realidade e de transformação social” (GASPARIN, 2002, p. 135-136).


A avaliação deve, pois, perpassar a práxis. Ela deve avaliar o ser social, ou seja, o homem em sua totalidade, através de práticas que coloque esse homem em contato com a sociedade, a natureza e a cultura, tendo por base a realidade, o concreto, o palpável. Em outras palavras, a avaliação deve elaborar questões reais a partir de um conteúdo real, a fim de colocar o educando no mundo e não numa realidade idealizada/platônica.

O processo de avaliação, portanto, deve ser emancipatório, formando sujeitos que pensem e construam idéias, tendo por base o diagnóstico, ou seja, diagnosticar aquilo que o aluno produz e quais as mudanças efetivas que ele, ser social e histórico, capaz de produzir conhecimento, realiza em si e na sociedade. Nesse sentido, o papel do educador é fundamental, pois “a ação avaliativa mediadora se desenvolve em benefício ao educando e dá-se fundamentalmente pela proximidade entre quem educa e quem é educado” (Hoffmann, 2003, p. 148). E tal proximidade faz com que prevaleçam os aspectos qualitativos sobre os quantitativos, tendo por base critérios previamente estabelecidos, pois toda espécie de avaliação necessita de critérios, visando a expressão e assimilação dos conteúdos pelos alunos.

Jailton G. Prates



Referências:


- FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. Um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1992.

- GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. – (Coleção educação contemporânea).

- HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora. Porto Alegre: Editora Mediação, 1993. 20ª edição revista, 2003.

- MELO, Alessandro; URBANETZ, Sandra Terezinha. Fundamentos de Didática. Curitiba: Editora Ibpex, 2008.

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